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sábado, 15 de janeiro de 2011

Pra falar de amor

Eu te chamei aqui porque hoje eu vim falar de mim. Essa vontade que eu sinto em dizer o que você fez aqui dentro. Eu que me fechei, e esqueci de um mundo inteiro. Que mesmo mal conhecendo a vida, sofria de uma urgência de falar sobre o quanto eu aprendi nesses anos, o tanto que eu carreguei de bagagem, como alguém que volta de uma viagem cansada, mas ainda tem força pra mostrar as fotos. E com algum conhecimento que adquiri ao longo do tempo, disfarcei inocência e te chamei aqui.

Eu te puxei pra cá pra falar de você. Você que destruiu todos os meus porquês, me fazendo desacelerar de toda a minha pacata rotina, e trouxe de volta reposta a tudo. Que como um clarão, iluminou minh'alma até me emudecer de tanta paz. Bagunçou esse meu ser a duzentos por hora, que desde o primeiro momento em que te viu não aceitou jamais te perder. Eu falei tanto de mim, de você, de nós. E você me escutou com cautela. Dedicado em interpretar cada palavra, gesto e tom de voz, você me deixou falar. Quando ninguém mais no mundo me ouvia. Me trouxe calmaria. Me cativou em cada detalhe meu, em cada centímetro do meu corpo, em cada erro, cada acerto, medo, vontade. Você é minha serenidade.

Eu te fiz ficar pra  falar de amor. Aquilo que sinto, forte como tua voz que me cala. Teu sorriso que me desmancha e me apaixona descontrolavelmente. Esse teu abraço confortável, um que existe enquanto a minha cabeça encosta no seu ombro. Eu queria te falar de alegria, te contar do quanto ainda me admirava descobrir algo tão doce em você, quando todos os doces já me pareciam amargos. Eu quis te falar do sol que eu vejo mesmo quando fica nublado, do tanto que o meu peito se aquece mesmo quando o frio aparece. Quis avisar do quanto o tempo me surpreende quando estou ao seu lado, de como o contraste da vida aumentou, do quanto cinco dedos entrelaçados aos meus fizeram tudo ser possível.

E foi você quem me fez ficar. Extrapolou a minha probabilidade de sorrisos e preencheu o predicado de tudo em que hoje eu sou sujeito. Inspirou, acolheu, fez melhor e falou o que sempre precisei ouvir. Uma resposta sincera, completa, inédita.

E aí eu calei.
Porque quando não sou eu que falo, quando o meu coração palpita e eu calo, é você que fala em mim. E quando a gente fala junto, quem se cala é o próprio mundo, pra ouvir falar de um amor sem fim.

você merece cada detalhe do meu dia.

Rafaella Telles


" (...) Você vai encontrar alguém que vai mudar
A sua vida inteira da noite pro dia! (...) "


te amo

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sem segredos



Tenho uma meia sete-oitavos cor de algodão doce.
Mas isso é segredo.
Gosto de Novos Baianos, ouço alto enquanto me arrumo. Mas isso? Pssss... É segredo.
Às vezes eu como direto da panela... Por favor, boca de túmulo!
Outro dia chorei assistindo Moulin Rouge. (outro dia?)
Se eu souber que alguém comentou isso por aí, eu nego.
Não leio emails longos.
Às vezes, falo que tenho 1,62.
Não sou totalmente loira e vivo querendo ser morena.
Penso sempre em fazer mais e mais tatuagens.
Filtro ligações no identificador de chamadas.
Mordi a hóstia na primeira comunhão.
Acho que bebê recém nascido não deve andar de avião. Pelo menos não no meu avião.
Queria me chamar Beatrice quando era criança.
Não sou esotérica, nem muito religiosa religiosa, nem acredito em coisas que não vejo. Confio mais nos astros do céu do que naqueles desenhados nos mapas.
Acho ridículo ficar sofrendo por amor, mas quando eu sofro acho ridículo quando acham isso de mim. E por isso já jurei para mim mesma que se meu peito doer por amor de novo vai doer calado, trancado no banheiro, até passar o ataque histérico e tudo voltar ao normal.
Dou risada por dentro quando ouço alguém falar uma bobagem descabida, sempre me acho incapaz de dizer tal asneira. Mas, ninguém precisa saber disso, né? Ficaria mal pra mim.
Odeio gente que se acha dona da verdade, esse tipinho que tem certeza de que o bairro onde mora é o melhor lugar do mundo, por exemplo. Essas pessoas que não compreendem como os outros podem ser felizes morando no centro, no Tremembé, em Hortolândia ou em Johanesburg não têm o meu respeito. Mas, como é segredo, elas não sabem disso e a gente se dá bem.
Adoro sentir saudade de seja lá o que for. E como disse um sábio amigo, não abriria mão de nenhuma delas por nada. São saudades minhas. Ao extremo, é a soma delas que faz de mim eu. Sinto saudade de comprar material escolar, de encapar os cadernos com o plástico daquela série, de escolher um estojo novo e uma borracha cheirosa. Sinto saudade até do cheirinho da escola (aquela mistura de pão doce e livro novo). Sinto saudade de ter preguiça de ir ao balé e não conseguir preparar uma primeira aula de sapateado, da marca Studio Line (esculpa seus cabelos à sua moda) e de nata no leite. E olha que eu nem gostava dela (e não gosto ainda).
Sou uma nostálgica incurável. Adoro Indiana Jones, Dr. Emmett Brown, a Mônica e o Cebolinha e Friends.
Há momentos em que fico lembrando de coisas com uma dor no peito... Videocassete e bomba de encher pneu de bicicleta, por exemplo. Quase choro.
Não quero casar na igreja. E já sonhei sim que tinha um bebê. Lindo, gordinho e risonho. Não, não era de ninguém conhecido, e isso no sonho era zero importante.
Não gosto de ouvir Maria Gadú. E olha que meu música brasileira está sempre no meu top five. Como essa mulher acha que pode cantar Legião Urbana e obter o mesmo sucesso? Não dá!
Fazer o quê? É a pura verdade, meu amigo... A pura verdade. A voz dela me irrita!
Amo algumas coisas e algumas pessoas como se fossem vitais para minha existência. Abomino outras como se fossem uma espécie de pereba crônica da qual não se livra nem com uma reza das brabas.
Eu gosto de cheiro de cachorro, de morango e de outono. Eu não gosto de bunda grande, assinatura eletrônica e frases no MSN. Isso faz de mim uma santa? Ou uma chata?
Eu gosto de piscina, de cebola e do Jude Law. Eu não gosto de Fall out boy, carnaval e textos do Jabor que não são do Jabor. Isso faz de mim uma pessoa amarga ou uma pessoa de bom gosto?
Eu gosto da Kate Winslet, de Cupim ao molho madeira e detergente de coco. Não gosto de gato, de “balada” e de acordar tarde. Por isso eu sou intolerante ou sincera?
Prefiro email à conversa por telefone, temaki a batata frita, Austrália a Paris, carro a avião. Então eu sou atrasada ou melancólica?
Odeio bom humor falsificado. Prefiro um homem que me ponha no eixo a um sentimental chato sem pelo no peito, mas não abro mão do romântico.
Não costumo dizer nunca. Sou cabeça dura e orgulhosa, mas mudo facilmente de idéia se convencida do contrário por alguém ou pelo meio.
Prefiro frio a calor, campo a praia, loiro a moreno, inteligência a emprego bem remunerado. Comédia a terror, amor a paixão, Quindim a sorvete. Odontologia a Farmácia, Rodrigo Aamarante a Leonardo Dicaprio, Beringela a jiló, atlântico a pacífico.
Entre cantar e dançar, fico com a segunda opção.
Entre o céu e o mar, fico com a montanha.
Entre o silêncio e a gritaria, escolho simplesmente estar só.
Entre o sim e o não, a verdade, por favor.
E nada disso interessa a absolutamente ninguém. Não interessa sequer a mim mesma que já sei de tudo que sei e que sou.
Meus erros ou minhas bondades, não vão fazer do mundo um lugar mais sombrio ou torná-lo melhor.
Minhas verdades não fazem de mim uma pessoa boa ou ruim.
Por isso, guardo tudo em segredo.
É coisa minha.
Não interessa a ninguém.


R. Telles

quarta-feira, 9 de junho de 2010

on the other hand

Eu ainda não sei aonde a gente vai.
Se àquele restaurante de comida japonesa que você amava tanto ou àquele bar de mpb de onde saímos de pileque. Sim, foi há milênios atrás.
Só sei que vou estar bem nervosa quando você vier me apanhar.
Vejo você descendo do carro (ou do taxi) para me dar aquele ''oi'' mais acalorado das pessoas que não se veem há muito tempo, especialmente aquelas, que já tiveram alguma (boa) intimidade, mas que ficaram por eras afastados um do outro. Já quase me vejo pensando numa gracinha qualquer para quebrar o gelo daquele primeiro beijinho no rosto e daquele abraço demorado - que eu vou interromper para entrar no carro antes de você perceber que meu coração está feito repique de escola de samba.
Talvez a gente nem saia, fique por aqui mesmo. Nessa troca de olhares perdidos, que por um momento esquecem que não estão no passado, mas tentam se achar em algum lugar que ficou lá atrás. E a nossa imaginação fica longe, tenta concretizar aquilo que os nossos atos ainda não conseguem acompanhar.
Ainda não sei sobre o que vai ser o começo da nossa conversa.
Se sobre a crise econômica mundial ou sobre o novo filme do Jonathan Dayton - aliás,
que filme foi aquele! -.
Mas eu acho que você vai falar mais do que eu. Dessa vez.
Porque você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro, enfim, a vida mudou muito desde aquela última viagem.
Eu acho que tudo que você me disser vai me interessar. Ainda mais depois de anos sem que eu tenha prestado real atenção em alguém - mesmo que tentasse convencer a mim mesma, o tempo todo, que os assuntos deles me interessavam.
Num dado momento, vai até parecer que você quer se abrir, mas que tem medo, e que prefere esperar mais para entrar nos detalhes mais íntimos da sua vida num tempo em que a ela eu não pertencia mais. Certo você! Eu também vou preferir ficar na minha quando o assunto for o meu último relacionamento ou o fato de eu ter largado muita coisa do que eu fazia e você aplaudia de pé e participava, sendo que você, não mudou nem de carreira, nem de atitude.
Eu vou te achar um cara bem mais centrado, melhor resolvido, senhor de si e, bom, senhor de mim, naturalmente. Só que você não vai saber disso. É que eu vou fingir que não estou me derretendo por você, mesmo que, no fundo o meu sangue esteja correndo sob temperaturas venusianas.
Mas como você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro, enfim, como a vida mudou muito desde aquele última viagem, eu não vou transparecer essa situação tão pessoal do meu sistema circulatório. E você vai ficar surpreso porque vai me achar tão tranquila e vai pensar que puxa, eu não era assim. Vai se lembrar de que achava até meio charmosinho o fato de que às vezes eu falava tão rápido quanto um locutor de corrida de cavalos,  a forma como eu reclamava quando estava nervosa e você ainda repetia o dito cheio de graça e carinho. Mas ali, não. Porque eu vou falar devagar. Sim, algo me diz que a gente vai acabar indo até aquele restaurante que você adorava. E que eu continuei a frequentar por todos esses anos.
Se vamos falar da comida? Só se você puxar a conversa para testar os meus conhecimentos gastronômicos e para me agradar, é claro. Sim, você vai querer me agradar. Especialmente quando começar a achar que eu estou muito na minha para quem não te via há tanto tempo.
Daí o papo fluirá naturalmente para músicas e filmes. É, pensando bem, vai ser inevitável que falemos sobre filme. Adorávamos esse programa. E sobre música? Isso nem precisa deixar claro.
Você, sem dizer nada, vai se lembrar de como me achava romântica. Vai se lembrar daaquele show que - você nem faz idéia - eu tive medo, de tão feliz que me senti. Você vai se lembrar de que, todas as vezes que nos falávamos por telefone, falávamos juntos, nunca dando o timing certo da espera da fala do outro, e que você achava isso irritantemente engraçado. E aí sim, não vai deixar de lembrar, como estávamos sempre em sintonia.
Mas de repente, enquanto eu estiver articulando as palavras no meio dos goles de água pra tentar esfriar a mente e molhar a boca que já não se aguentava mais de tão seca, e da sua presença quase insólita na minha frente, mil perguntas aporrinharão meu cérebro – mesmo eu percebendo que não é a hora para você revelar os tais detalhes íntimos. E eu vou te achar tão perfeito para mim, de novo, que vou começar a pensar.
Será que um dia você chegará a me conhecer direito? A verdadeira eu? Essa, que dorme com a cachorra na cama e anda com elástico de cabelo feito de meia o dia todo na cabeça?
Será que algum dia eu vou conhecer seus segredos, aqueles desprezíveis e ordinários? Porque não é possível que você não tenha algum, apesar dessa sua cara de banho. Será que algum dia você chegou a saber quem eu fui de verdade enquanto estávamos meio juntos? Será que estivemos mesmo meio juntos? Será que você precisa saber de alguma coisa minha que já não esteja à mostra? Será que adianta fingir que sabia de alguma coisa? Será que eu quero saber de um outro você que não esse aqui?
Para ser sincera, talvez, hoje, você nem caiba mais na minha vida. Porque sim, foi tudo meio lindo, mas meio triste também, não? Meio abortado. Meio sem começo, sem meio, sem fim. Metade de alguma coisa.
E de repente, eu não acredito mais em nada.
Não te retorno mais em nada.
Justamente porque você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro e a vida, meu caro, mudou muito desde aquela última viagem.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

ama-me baixinho


Quando a gente ama, tem sempre uma parte daquela pessoa que só a gente conhece. O jeito de ajeitar o cabelo com desinteresse, a palavra dita que sempre vem junto de um sorriso, ou até a maneira de olhar quando quer alguma coisa que, todavia, não pede. No fundo a gente sabe que, a despeito de qualquer defesa que a gente construa, colocamos ali, exatamente na leveza dos olhos daquela pessoa, todas as nossas esperanças, angustias e emoções.
Quando se ama, de verdade e com os quatro compartimentos do coração, aquela pessoa se torna uma equação que você vai resolvendo todos os dias, em silêncio. Aos poucos você percebe que a soma de um sorriso com um olhar que foge, é igual a timidez. Que multiplicar aleatoriamente os gestos e as palavras equivalem a "não consigo dizer em voz alta que te amo". E até que dividir com você o mesmo sono, apertado numa cama de solteiro, significa que ele precisa de alguém que o ajude a viver nesse mundo de loucos.
Existe algo de muito belo, ainda que assustador, em amar alguém. É como preencher as horas do seu dia com a mais intrigante de todas a coisas intrigantes. A idéia de compartilhar e ser compartilhado traduz a nossa necessidade de fazer parte dessa engranagem que movimenta o mundo ou, em melhores termos, de saber que, de alguma forma, não passamos em branco pela vida.
O amor é uma forma única que quando se divide, cria dois inteiros no lugar de duas metades. Quando se ama, dentro de você nasce e cresce a convicção de que, afinal, ainda existe sim uma esperança de que as coisas sejam mais e melhores.
 Mas, ainda que amar seja tudo isso que disse, ainda assim é uma dor. Dor que desperta diante da súbita constatação de que o amor que recebemos foi insuficiente para repor aquele que entregamos. Mas ainda que doa, mesmo assim, não saberia viver sem amar. Quem não ama nunca saberá o motivo de sua própria existência, jamais experimentará a segurança morna de um abraço e nem, tampouco, o enlaçe inviolável que é criado toda vez que um amor nasce entre duas pessoas.
Eu amo.
E espero que um dia possamos dizer que, apesar dos pesares, amamos com a total ausência dessa dor "que desatina sem doer". E como diria meu amigo Mário Quintana: ''a vida é breve, e o amor, mais breve ainda.''

quinta-feira, 20 de maio de 2010

do mocinho ao bandido

Nós, mulheres nos deliciamos em viver um romance no qual sejamos as verdadeiras protagonistas, que tenhamos que batalhar por eles e não o contrário. Adoramos não saber direito o que estamos fazendo. Chamam isso de ressaca. Depois de tantos e tantos anos inebriadas no perfume exageradamente doce do romance, sempre estivemos à espera na janela e nunca desbravando horizontes em busca de um amor. Fato é: o interessante é o homem ser apenas um pedaço do que queremos... porque, cá entre nós, o príncipe montado no cavalo é mais um hábito do que qualquer outra coisa.

Hoje somos muito mais exigentes. Procuramos um homem com qualidades que encontraríamos num Dom Juan e num Clark Kent com óculos de grau... tudo junto. Ele é quase o vilão das historinhas, mas ao contrário daqueles, é apaixonado pela mocinha. Um clássico western invertido. Homem bonzinho que respeita demais, que ama demais, que declara demais, é chato demais. O que avassala o nosso coraçãozinho é o olhar 43 no qual nos sentimos desejadas e aquele sorriso de canto de boca que nasceu com o dom de ser cafajeste. 'Ele não pode ser bonzinho demais. No começo ele tem que saber o que está fazendo mesmo. Depois, um "q" de preocupação: mensagenzinhas de madrugada, convites para sair no final de semana... Nada de romantismo demais.' - Dizem.

E sabe de uma coisa?

Concordo! Tá na hora de quebrar tabus e edificar desejos. Nossos pais lutaram pela liberdade de ser o que se quer ser. Cabe a nós, mulheres, tomar o partido e usufruir dessa liberdade. A pessoa com quem você vai passar o resto da vida pode estar em qualquer lugar, no mocinho, no bandido, ou nos dois!

Já disse Marta Medeiros: "O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa."

Falou e disse ?

terça-feira, 18 de maio de 2010

Perdas e ganhos

Vigiada por tudo e todos, mas uma mulher completamente resolvida. Deu cara a tapa ao enfrentar situações que poucas engoliriam e sim cortariam o mal pela raiz. Mas fez o avesso, tumultuou tudo tentando viver suas ideias planejadas antes de dormir.
Com isso, se perguntava constantemente sobre a prepotência de algumas pessoas, e mais que isso, o sentimento gerado ali.
Depois de muito tempo, já com os papéis invertidos, sentimentos jogados no lixo, revoltas vencidas e mais uma vez resolvida, foi embaraçada pelo motivo de todo problema existente. Mas ao contrário do nomal, não pensa em pagar o bem com o bem, muito menos o mal com o mal. Mesmo que recebendo incentivos para tal de todos os lados.
A guerra é uma característica da sociedade em que vivemos. Mas é interessante perceber que, incorporada a esse mecanismo, existe uma guerra dos sexos. Os homens fazem guerra uns com os outros fazendo uso da força física, da pouca racionalidade e guerreiam sempre buscando alguma recompensa ou prêmio. As mulheres, noutra vertente absolutamente oposta, se debruçam sobre uma forma de fazer guerra que, bom, é absolutamente diferente (tinha que ser...).
Mas como já foi dito, essa mulher que vive dentro de tantas emoções e crônicas pseudo-fictícias, não tem como seu forte guerrear. Mas sem sombra de dúvidas, assiste de camarote a todo ''jogo''.
Um jogo. Expectativa e realidade são como um jogo vicioso onde quem ganha é sempre o azar. Azar de quem espera sempre o máximo das pessoas e não reconhece sorte do mínimo gesto de retorno. De quem não sabe equilibrar perdas e ganhos. Azar de quem nasceu carente assim.

E antes que ela deixe tudo de lado achando que ''algumas pessoas simplesmente não importam'', esquece a saudade, finge independência e garante que intensidade continua sendo o melhor (e o pior) nela.


Rafaella Telles

You can make a difference ...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sobre.viver o vício

Oi.
Meu nome é Pedro e eu sou viciado em dopamina.
Essas coisas acontecem com a gente e nunca se sabe quando elas começaram realmente. Às vezes é você tentando escapar despretensioso de alguma coisa, tentando dar sentido ao que não pode ser explicado ou impelido pelo motivo razoável de querer alcançar um alívio, chegar a um porto seguro. No início até que é bom, mesmo quando é ruim. Tem coisas que são assim né? Boas, na alegria e na tristeza. Mas aí depois de um tempo (e com a idade) você começa a sentir nas rugas e na lista sem 'ok' de ano novo, os danos que aquilo está provocando na sua vida. Alguns, permanentes.
Você começa a se afastar das pessoas que te rodeiam porque, naturalmente, você não vibra mais igual a elas. Sabe imã quando não se junta? Então. Na realidade elas, as pessoas, é que se afastam de você porque não se interessam mais pelo que você é, apesar de gostarem de você. E aí você fica meio consternado mas o que se há de fazer né? Tudo muda. E é bom mudar.
Todo bom viciado não anda sem sua droga. Jamais. Ela está sempre junto de você por todos os dias de sua vida como fiel escudeira. Você só tem paz se tiver ela, mesmo que seja só por ter ela ali paradinha, sem fazer nada. A gente não usa sempre, até porque é difícil de conseguir. Então são uns momentos raros de paraíso deslocado na sua vida. Quem já provou, prova sempre. Tem uns que conseguem largar, mas ressecam. Ficam inertes sobre duas pernas andarilhas... até que experimente de novo. E tem uns que morrem, literalmente definham. Casos raros.
A primeira vez que eu usei dopamina foi há dois anos atrás. Aqueles verões que a gente não esquece, sabe como é? Que você guarda numa caixa surrada no fundo da gaveta e que ninguém mexe porque acha que nada de importante é guardado ali? Mas só a gente sabe o que significa. E a primeira vez é a primeira vez. Você nunca experimentou nada igual e julga, leviano, que nunca irá experimentar algo melhor. Se joga com dois pés e duas mãos no mundo novo que se descortina na sua frente. Porque a droga não vem sozinha. É um caminhão de mudança. De lá de dentro desce centenas de lugares que você nunca foi, gente que você nunca imaginou conhecer, sentimentos dos mais inéditos possíveis e o centro do mundo se desoloca, suave, para debaixo dos seus pés. Seu novo lema é viver o que há pra viver. A droga, no encalço. Sem ela não tem festa. Sem ela não tem nada na sua vida.
Quando o tempo passa, você começa a obedecer a ela e não o contrário. Nessas horas você realiza pro fato de que há efeitos colaterais. Vez ou outra o coração acelera e vem aquela sensação de que o sangue tá correndo no sentido contrário dentro de suas veias. As vezes você se pega viajando, noutro lugar, bestificado. Você perde a concentração, não sente vontade de fazer as coisas que costumava fazer... é um desastre pscicológico. Tudo é demais. Vento é furação, chuva é tempestade, poesia é regra e um sorriso consegue ser música.
E ai quando se chega neste estágio, duas coisas podem acontecer: você continua se drogando porque continua a ser alimentado, ou então é obrigado a parar. E, anote aí, parar com a dopamina é uma das coisas mais dolorosas que existem. Aquela dor que dói e nao se sente sabe? De dentro pra fora?
Quando você para com a droga, é como se alguém tivesse feito um buraco em você que não se sabe onde e tudo está vazando. Uma hora você esvazia. Fica vazio mesmo, meio zonzo, sem entender o que está acontecendo, o que é a vida, como se vive. Fato é que a dopamina que correu no seu sangue durante tantos dias te inebriou de tal forma que você não se lembra mais como é viver sem ela. Como é dormir com si próprio? É estranho, meio que faltando alguma coisa. Como é começar o dia sem a perspectiva de que vai sentir todas aquelas emoções e coisas boas? Nada?
"Oi, meu nome é Desespero e eu estou aqui pra ser seu amigo"
Pior é que nesse caminho que eu não sei se posso chamar de recuperação, você nunca está sóbrio realmente. Fica catando restos de doses esquecidas em algum lugar. Tentando sentir de novo aquela sensação. Mas tudo é muito débil. Isso, no entanto e para a felicidade geral, passa. Mas pra passar... depende de muita coisa.
Sou viciado em dopamina e não a uso faz dois anos. É difícil demais. Vou tentar ficar sóbrio pelos próximos, mas não prometo nada. É uma escolha difícil, mas que uma hora ou outra você teria que fazer. A gente chega tão fundo as vezes, que voltar pra superfície leva tanto tempo quanto o impossível leva pra ser alcançado. Na jornada de recuperar-se, aceite ajuda se alguém te oferece. Converse com pessoas diferentes, porque tudo o que você não precisa é de gente que você já conhece. Não pegue o mesmo insuportável caminho de sempre, permita-se à liberdade. Não espere, nunca. Se tem uma coisa que eu aprendi é que esperar por alguma coisa é o mesmo que impedir que ela apareça. É como água que demora duas horas pra ferver se a gente ficar olhando. Por hora, evite lugares e situações que te remetem à droga, pelo menos por enquanto. Uma hora você vai ter que enfrentar essas coisas e, torcemos, irá superá-las. E se superou, está pronto para usar dopamina novamente. Mas dessa vez cuide mais de você mesmo e não se vicie nessa coisa. Você sabe que tudo demais é veneno. Dito isto, não há mal nenhum em ser usuário da dopamina. Por favor, concorde.
Até porque ninguém vive sem amor, vive?

"Dopamina é um neurotransmissor, precursor natural da adrenalina e da noradrenalina. Tem como função a atividade estimulante do sistema nervoso central. É um composto químico comum no corpo humano. A presença de elevados níveis de dopamina parece ser uma característica dos apaixonados. O papel da dopamina é importante no mecanismo de desejo e recompensa e seus efeitos no cérebro são análogos aos da cocaína. É uma verdadeira droga de amor"

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A última palavra

Destino!
Essa palavra tem cruzado muito com meus olhos nos últimos dias. Nunca fui de apostar apenas nele. Não gosto da ideia de me limitar ao que algum acaso, momento ou ocasião podem me reservar, mas bem que andam calando muito minha boca. O pior de tudo é que eu não sou aquela pessoa que vive a sua vida e num belo fim de tarde pensa em amar alguma coisa. Ah não, não. Pra mim é viver o amor e aí depois lembrar que tenho que acordar cedo no dia seguinte. Mas não tem sido bem assim.

Todo mundo vive em função de alguma coisa na vida. Todo mundo tem um f de x. Tem gente que quando vai dormir faz uma lista das coisas que tem que fazer no dia seguinte. Gente que repassa o que estudou pra não esquecer. Pessoas que planejam o futuro que talvez nunca venham a ter ou, com sorte, terão. Há quem reze e lamente-se das mazelas do mundo e de si. Ou que apenas desabe em sono profundo, e sinto inveja.

Sem CALCULAR nem planejar muito, a vida acontece. E como acontece! Quando menos esperamos, e passa ou não. E repito, o destino tem me pregado peças. E às vezes o gosto amargo do que ficou, deixa claro que não passou. Like a "eu sei é um doce te amar, o amargo é querer-te pra mim" (os hermanos sempre marcando alguma situação da minha vida).

Com os anos, a gente acaba descobrindo que o que precisamos nem sempre é o que buscamos. E mais uma vez no nosso desejo de fazer da própria vida um filme recorde de bilheteria, passamos a desejar que aconteça conosco uma revolução, uma reviravolta típica das comédias românticas, que nos arranque da mesmisse ou das dificuldades. Desejamos, ainda que timidamente, encontrar alguém made for us ao dobrar a esquina, esbarrando sem querer. Ser percebido por alguém na hora em que paramos pra pensar, distraídos, numa quarta-feira qualquer.

O tempo ou qualquer combinação de circunstâncias e acontecimentos que influem de um modo inelutável (como dita o dicionário), mesmo que eu não queira, mechem e remechem comigo. Já dizia meu colega Mário Quintana:''o tempo é só o ponto de vista do relógio''. E disse bem, visto que dependendo do que a gente faz, o tempo estica ou corre alucinadamente.

Eu não lembro bem o que me fez escrever tudo isso, ou qual foi a última coisa que disse antes do ansejo da despedida, mas sei bem que a decisão não foi só minha, muito menos fui a última a falar. O incontestável é que todo mundo tem a última palavra na sua própria vida. Dita, cantada, proclamada, sentida, expressada por meio de gestos, desenhos ou doutrinas do Paulo Coelho. O seu trajeto e o que fica é você quem diz.

E tenho dito!
Rafaella telles

terça-feira, 11 de maio de 2010

Negrito

' Trocam emails com uma educação forçada. Deixam tudo engatado e fingem que estão bem, tocando suas vidas com novos planos e projetos. Como se fizesse muito tempo desde a última vez que se falaram. Como se, de fato, tivessem vivido algo.
Ela não quer ser simpática e nem amiga. Quer perder horas contestando e pedindo porquês para uma lista de coisas. Quer gritar, dizer que tudo foi culpa dele. Que ele, a razão dela ter parado de fumar, foi também a razão pra ter voltado. Que aquela simpatia toda era uma fraude. Que, óbvio, que ela queria que ele largasse tudo e ficasse com ela, como nos filmes.
Não quer, mas tem raiva. Uma raiva imatura. Quer amassá-lo e jogar fora na lixeira mais próxima, como um rascunho que nada serviu. Mas, ela ainda insiste em não ver ele ainda intocável na mesa dela, como uma folha nova, pronta pra ser escrita a qualquer momento.
O nome dele em negrito está lá novamente no email dela. Ela se angustia, mas já sabe que deve ser feito dessa vez. '


crônica à uma amiga.

sábado, 8 de maio de 2010

Sorte


Eu sou sortuda.
Depois de tentar me descrever por diversas (e inúteis) vezes, pude chegar a esta simples conclusão. Sortuda.
Claro, milhões de mulheres, assim como eu, também são sensíveis. Também vivem com a cabeça na lua, esquecem as chaves de casa, são caseiras, friorentas, chegadas num drama e apreciam as espontaneidades. Difícil é serem sortudas.
Então porque eu gastaria linhas descrevendo características tão comuns quando tenho um verdadeiro pé de coelho nas mãos?

Pois a sorte conhece meu endereço e bate à minha porta. Está aqui, presente do bingo ao trevo de quatro folhas.
E eu sei, eu sei que você dirá que sorte não existe, que o que existe são conquistas. Então chame de acaso, coincidência, fé, o que for.
Independente do nome, aqui tem de sobra.

E antes que você pergunte onde está meu bilhete premiado na Mega Sena, onde foi parar o carro que ganhei no último sorteio ou quanto dinheiro andei achando na rua, é bom avisar:

Sorte pra mim é ver o carrinho de picolé chegando. É compartilhar gargalhada na segunda. Acordar com vontade de fazer bolo e ver que tenho os ingredientes. É ganhar beijo roubado. É ir à locadora e conseguir “O mágico de Oz” por dez reais. É ter um pai que brilha por mim. E uma mãe que parece ter trabalhado no céu.
De onde eu venho, sorte é conseguir me formar na profissão que eu queria, e já empregada. É ver que a margarida que você me deu e eu plantei no jardim, pegou. Que as fotos de ontem ficaram bonitas. E que o amanhã será muito, muito mais do que eu pedi a Deus.
Sorte pra mim é sol no sábado. É pijama até às 3. É reunir os melhores amigos com chapeuzinho de aniversário. É saber que amanhã é sexta. E que os problemas já podem ser substituídos.
Sorte é saber que eu sou forte, capaz e saudável. E saber que eu não sou um monte de coisas. Mas que posso ser.
É ter pra quem ligar quando eu quero rir. E ter alguém pra chamar quando eu quero colo.
É ter certezas. De que vai dar tempo. De que vai dar saudade. E de que eu sou determinada a ponto de quebrar a cara (e de não desistir com isso). É, acima de tudo, saber perceber que eu tenho sorte.

Sorte é ter um passado doce e o açucareiro nas mãos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Guerra fria


A história começa de ponta cabeça, e com um final não tão feliz assim. Fui perguntar a Deus o que fazer. Nunca soube de onde essa voz vinha, mas ela sempre me dizia pra pensar um pouco em mim. Que só assim as coisas iriam se sair bem e que o conforto do meu coração aconteceria independendte da situação. Mas o coração aqui pulsa. Muito! E vivia em mim de tal maneira, que não conseguia separar o emocional do racional.

Passou a ser confuso quando o sentimento cruzou os dedos com a dor. A dor aqui sempre foi citada, nunca camuflada ou jogada num canto. Erro meu! Mas eu nunca aceitaria a presença dela numa história tão bonita e tão fantasiada... por mim, sempre por mim. Tentava ser a protagonista, mas acabei como codjuvante.

Eu nunca gostei de montanhas-russas. Nunca me agradou tuas oscilações que iam tão contra essa minha fábula de amor perfeito. Mas no final eu sempre sedia à adrenalina do momento. De alguma forma tudo que eu sentia era tão grande, tão forte, que escondeu teus erros, teu lado. Esse que na verdade, nunca foi metade. Mas eu não soube evitar. Não soube esperar, e a todo momento queria vivernos teus olhos, porque você já vivia nos meus.

E derrepente a minha imagem apagou nos teus olhos. A minha história encarava a realidade, e mais uma vez eu me sentia pequena, mas agora: sozinha. Queria uma mão que segurasse a minha enquanto eu desenhasse as palavras da nossa história. Um colo que me envolvesse, enquanto eu me escondia do que o mundo queria me mostrar. No final das contas, continuei não entendendo por quê insistir em botar a cabeça no meu travesseiro, quando ela foi feita pra caber no seu ombro.

Foi aí que eu lembrei da forma como a gente se conheceu. De quando eu disse que te amava. De quando você me retribuiu com o mesmo. Mas lembrei também da voz que eu não sabia de onde vinha, ou fingia não saber. Foi assim que na guerra entre o que eu sentia e o que eu queria, virei revolucionária. A arma branca de uma guerra fria.

Me inconformei. Parei de achar normal a sua ausência. Parei de me torturar com aquilo que não mais existia e só eu não podia (ou queria) ver. Assumi a estranheza por aquela pessoa que não mais devolvia carinho. Reivindiquei uma pessoa que eu sempre quis ter, mas que pela primeira vez, reconheci que não tinha. Colecionei cicatrizes contraditórias, mas suficientes o bastante pra me fazer entender que o que um não quer, dois não fazem. E PONTO FINAL! Como guerrear nunca foi meu forte, entreguei os pontos. Cansei! - respirei, enfim.

Então assim como a dor nos deixa mais fortes, a distância nos deixa mais unidos. E há alguns anos atrás, essa teoria pareceria facilmente um clichê besta de auto-ajuda, até que eu pudesse ver nitidamente dona distância operando milagres por aqui.

Verdade seja dita: ficar longe de quem se gosta pode ser um porre, mas nada melhor que uma boa distância pra unir pessoas. É como uma mola - quanto mais se distancia, mais tem a necessidade de se juntar. E assim somos nós todos, com nossa natural mania de dar um valor maior ao que está fora do alcance ou àquilo de que se sente falta. Pode ser positivo na maioria dos casos, basta saber enxergar do jeito certo.

Porque até o que eu sei foi posto à prova. E o que eu sei é que eu tinha nos meus olhos uma ingenuidade e um brilho que só de pensar em você já transbordava em palavras. Hoje, eu sou o limite em pessoa. Talvez essa tenha sido a chave que antes faltou e agora faria dar certo.

Rumos de vida foram seguidos, plausivelmente. Talvez diferentes, mas na mesma intensidade. Essa que junto com a imaturidade sempre andaram uma do lado da outra, um dia. Mas o tempo e o destino fizeram tudo de forma tão natural, que o acaso deu asas a imaginação. Coincidências foram transbordando até que nos encarávamos sem nenhuma pressão.

Foi denovo tão intenso que não saberíamos decifrar o antigo do atual. Mas foi diferente, sincero e CONCLUSIVO. O que era preto e branco tomou cor, e o que era dúvida ganhou certezas. Não era um recomeço, mas talvez um ''enfim, reconhecidos!''.

Podem não entender, mas aqui dentro é muito óbvio. Difícil mesmo é admitir que exageramos no fim das contas. Mas de fato, foi o melhor que ocorreu. Melhor ainda foi chegar a conclusão mútua de que era melhor colocar as reticências mas não acrescentar história. Um dos nossos melhores entendimentos.

Eu sou prolixa e tenho um diabinho sentado no ombro, me instigando como naqueles desenhos. Talvez seja a insegurança acumulada, talvez seja um meio que esse meu coração cansado (falou a oitentona) encontrou de se defender de ataques futuros. Ou talvez seja mais uma maneira irônica que essa minha vida banana tem de enfeitar a pior banalidade. Essa dualidade faz parte e vai de cada um produzir seus litros de sangue de barata ou aprender a dramatizar menos (opção vetada).

O tal diabinho até pode ser esperto e saber bem manipular. Ele só esqueceu que no ombro ao lado tem outro cara, duas vezes maior e vestido de anjinho.
Ah, e que ele faz jiu-jitsu.

E agora sim, a história começa. Distantes, mas em Paz!

Rafaella Telles

(Crônica meramente ilustrativa)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Um dia, a mola também foi assim


Era uma mulher. dessas que veêm aventura em tudo. - Ah, que idéia maluca essa de se arriscar! - e lá foi ela. Largou o mundo por uma migalha de pão, um doce afago pelo eterno cinza da manhã. Pois pra quem sabe cismar, não há tempo nem dificudades que bloqueie. Carrega-se apenas uma vontade grande o suficiente que ultrapasse aquelas barreiras que vêm junto com a ambissão de vencer. E esta sai acotovelando previsões ou até qualquer cautela que faça um mortal caminhar para trás.

Esquecendo que causa e consequência andam de mãos atadas, foi realizar um desejo inconsequente. Chegou na terra da garoa e escalou o andar dos sonhos. foi ser bailarina. Se São Paulo fosse alguém pra conversar, ele seria do tipo de pessoa que não escuta. Que interrompe fala e te trai. Trai por atrair pessoas de todos os cantos, pra uma só missão. E o mundo da dança não está tão sozinho quanto quem conversa com esse melancólico lugar.

Vão os dias, vai ela. Pediu pra protagonizar seu próprio filme, e procurar oportunidade onde falta espaço. Mas o tempo passa, passou. Ela pediu por isso. Pediu alto. Pediu e vai conseguindo, mesmo que perdida, adora um resultado e não larga mão de tudo tão fácil assim.

Depois de acreditar-desacreditando, a mudança está só começando. E ser uma mulher que pôde escolher seu destino, vai muito além de poucas possibilidades.

Pernas pro alto e cheia de perseverança, espera por tudo que ainda vem.

Rafaella Telles

( Texto meramente crônico e ilustrativo. )

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Num passado remoto perdi meu controle


Me perdi
não sei por onde andar
não sei onde chegar

de um lado virtudes, esperanças, sonhos.
do outro prazeres, sensibilidades, desejos.

dei nome ao passado, divino.
eu não mais o vejo
mas está aqui em algum lugar, onde hei de achar.
o esqueci dentro de dúvidas.
santo erro que ainda cometo.

Solta a brisa, a melodia que marquei.
que me marcou!
ficou!

quase profano, tudo aquilo que deveras não sei.
fiquei estática, e o passo longo.
ao meu destino, as costas não virar-lhe-ei.
quando eu o achar
pode ser perfeito.

Rafaella Telles

quinta-feira, 23 de abril de 2009

almost sweet talk


Com frequencia sonho com ele, mas jamais é inteiramente ele: ele às vezes tem, no sonho, alguma coisa de um pouco deslocado, de excessivo. E diante da foto, como no sonho, havia sempre um lugar reservado, preservado: a claridade de seus olhos.
é quase ele!
e é quase ali que eu gostaria de viver...

caffeine

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dançapateando

[Memórias de movimentos suaves, repletos de pas de bourrée, sissone e assemblé. Sonhos exaustivos e suados que só buscavam a perfeição.]

A dança, a priori, remeti a força e leveza do homem, transmitindo pelo corpo uma linguagem já aprimorada. Desde então, encara caras e bocas de todos os lados. Existem os que se aderem ao mundo e outros que caminham em um falso conceito.

Por um tempo exitei em expor meus sentimentos, mas mergulhei no princípio dos contratempos e em folha toda branca dei meu primeiro passo. Sem temer, esbocei tudo que me foi ensinado: gira, corre, salta. - olha o tempo! estica esse pé! - expressa, olha, vive. Tudo sete, oito.

Se antes o esforço e o empenho, depois as dificuldades, erros, tombos, bolhas. - Ah, as bolhas! nem me lembra delas. - Verdade é que só com toda essa mistura, a pureza do prefácio se faz real.


Assim, nasce todo o desejo de timbres, sons e combinações. Uma vez inerente à essas possibilidades, a base do seu corpo enriquece qualquer capela.

Me fogem as palavras ao tentar expressar o que significa pra mim ter o tempo na mente e total controle dos meus movimentos. O palco torna-se vazio e só escuto meus passos, meus flaps, meus riffs. Meu desafio é a música. Ela me acompanha.

Sapatos e sapatilha a postos, coreografia passada e repassada, vibrações carregadas de energia. Merda para todos! (Cortinas abertas.)

A música toca, meus movimentos são ricos, meu sorriso vibrante. Olhares me chamam atenção; olhos nos seguem. É notório o arrepio dos que ali estão. (Pose final.)


Meus pés tomados de ensaios pedem um salva de palmas.

Rafaella Telles

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O silêncio que fala

O homem, em sua forma mais primitiva, expressava-se com uma linguagem pouco aprimorada. O corpo, a priori, cumpria diversas funções comunicacionais, já que a escrita era rudimentar. Hoje, o mesmo assume outras possibilidades expressivas diante da evolução da linguagem. Assim, essa tende a transmitir cultura, tendências e até mesmo paradoxos comportamentais. O corpo fala várias línguas.

Na grécia antiga o corpo era o templo que ilustrava os principais valores da época, como proporcionalidade, agilidade e fugalidade. Na contemporaneidade, é dado um foco excessivo à forma, o que deturpa os fins comunicativos do corpo. Embora pareca determinista, as possobilidades de leitura das linguagem corporais ficam limitadas à manipulação involutiva da estética. Muito músculo e pouco cérebro deixa o corpo grego analfabeto. O corpo está para a perfeição.

Diante dessa lógica, há um superexploração midiática da sensualidade. Nesse sentido, toda a libido que foi maquiada volta à cena por meio de uma apelação excessiva. Essa revela que o homem exteriorizou seus desejos, utilizando seu corpo como instrumento de exposição desmensurada. A forma humana, então, é estimulada com um investimeno para a obtenção do retorno aos prazeres instintivos mais primitivos. O corpo está para a cultura da sexualidade.

Antagonicamente, pode-se observar uma grande distância entre o ato e a verdadeira intenção de quem o produziu. Em uma realidade de fluidez dos valores morais, uma expressão acaba por ser relativizada, repercurtindo em resultados distintos a que foram reservados. Um aperto de mão não é mais garantia de lealdade, desnorteando a compreensão humana dessas representações. O corpo está para a cultura da incerteza.

Não há, dessa forma, uma gama de possibilidades de interpretação do que o corpo expressa,pois essa está restrita a um leque de opções manipulador da sociedade. Em um passado remoto, as expressões corporais eram marcadas por uma espontaneidade simplista. Hoje, são tomadas por artificialismos de intentos e ausência de princípios. A autenticidade deixou de ser característica. O corpo cala.

sábado, 1 de novembro de 2008

De amor em paz


Ah se toda lembrança fosse assim: tão sublime! Cada gesto marcado pela certeza da eternidade, pelo aconchego de um sorriso. Questão de merecimento, de sorte, de puro acaso ou até destino. É amigo! A vida vive nos testando, e por instantes não sabemos como reagir.

Um momento produtivo? Não! Um momento de satisfação? Também não! Um momento que não se escolhe, mas sim, acontece. Não obstante com tudo, brotam as supresas. Essas que conduzem dia, noite, barulho e silêncio com o mesmo objetivo. Desde então, o escuro não existe, o frio é confortável e as palavras têm vida. Se antes um desejo, hoje uma felicidade.

E é transbordando de alegria que os passos são dados meticulosamente com um só propósito: o futuro. São ensejos movidos de amor, regados de carinho e feitos com um suave toque saudoso de paz.

Rafaella Telles

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Tão fácil de enxergar... E chegar


Ainda que imersa em um mundo de tons e sons, me vejo ausente de toda turbulência do acaso. Nele seu maior risco é o preto e branco do ensejo, que visto a olho nu recicla todo prefácio. Ainda que preze por transpor pensamentos em palavras, observo-me sem saber o que dizer, porque enquanto se tem fé, a vida nos prega peças.

Em comum com as cores do universo, as luzes de outros mundos parecem mais translùcidas, como se houvesse permissão para o alcance de diversos interiores. Entretanto, eis que surge a minha vez. Tempo de cautela, de essência, de seleção.
Tempo de decolar. Modelar o pseudo-inatingível, e saber olhar com outros olhos.

Como em um túnel, segui no escuro focado em algo que me levava à frente. Apezar das vertigens, o alcance não é mais areia em minhas mãos. Agora meus passos são hesitantes, divididos em trechos, rastejados de lugares por onde andei morosamente. Muitos já teriam sido percorridos, e o trecho iminente... seria um destemido salto ao ar.

Tudo enfim, tão forte, tão intenso e tão estranhamente simples que não conseguia mais viver sem aquilo.

Rafaella Telles

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Encruzilhadas sentimentais


Que canseira, Deus meu. Canseira da saudade de momentos e sentimentos loucos e contraditórios. Uniam-se lágrimas e risos sem esforço algum. É intemporal a sensação que me provocam. Tão forte!

Palavras, riscos e rabisco bebidos como água, saboreados nos detalhes que envolvem a minha realidade e aumentam o contraste das cores, o volume dos sons e o sabor dos ensejos. Extrapolaram a minha probabilidade de sorrisos e preencheram o predicado de tudo em que hoje eu sou sujeito. Cativaram calmaria para meu coração com a suavidade da voz e a lógica que me falta, mas sem conseguir esconder as palavras que chamam pelo meu corpo quando as horas passam a ser contadas e as boas lembranças usadas.

Nesse turbilhão todo há um destaque, o qual se propaga até chegar onde deve. E onde deve é no corpo inteiro, no corpo da alma, no corpo da mente. Mistura e pureza que interceptam o efémero. Nada tão sublime há de ser transitório.

Tantas palavras lindas ditas, recitadas, cantadas e coloridas. A qualquer instante quebrando a monocromática rotina, onde todas as verdades, as mais puras verdades, vêm à tona traduzidas em sons e tons variáveis que preenchem áreas d´alma jamais antes preenchidas. Não é um ponto final. É um ponto-parágrafo.

Rafaella Telles

domingo, 5 de outubro de 2008

união


Se alguém acredita ser capaz de dominar as palavras... muito enganado está. As palavras têm vida e personalidades próprias, e circulam livremente por aí. A vergonha, por exemplo, anda acompanhada do sorriso, que mantém-se sempre contido, pequenino. Porém certas vezes o sorriso passeia sozinho... e sorriso sem vergonha é outra história... Sonho é palavra leve, que desliza livre por todos os cantos e não obedece nem mesmo a senhora lógica. Aliás tudo que o sonho não faz é obedecer regras. Ele é o que quer ser e ponto final. Medo é pesado, se arrasta pelo chão e reluta para dar qualquer passo. Por algum motivo, tem horas que o medo cresce, toma dimensões gigantescas e seus passos duros parecem esmagar a confiança e tantas outras palavras. Só nunca atingiu a esperança. Essa é palavra levada, apressada... sempre chega antes de todos, e nunca, nunca deixa um recinto. Dizem que ela é eterna. Esperança é parceira do sonho, e juntos sempre convidam a alegria à participar das festas. Há quem diga que a lágrima é palavra indecisa, pois nunca sabe ao certo quem acompanhar. Prefiro acreditar que ela é sociável. Responde prontamente aos convites de felicidade, mas também se faz presente nos momentos que a tristeza pede companhia. Até mesmo visita a solitária solidão! Criatividade sempre com suas idéias revolucionárias, propôs uma reunião entre todas as palavras. Com seu magnetismo atraiu todas as palavras para seu redor, e convenceu-as que juntas criariam uma nova companheira. Todas se esforçaram, deram seu melhor... assim nasceu poesia.

(Danonielle)