sexta-feira, 21 de maio de 2010

ama-me baixinho


Quando a gente ama, tem sempre uma parte daquela pessoa que só a gente conhece. O jeito de ajeitar o cabelo com desinteresse, a palavra dita que sempre vem junto de um sorriso, ou até a maneira de olhar quando quer alguma coisa que, todavia, não pede. No fundo a gente sabe que, a despeito de qualquer defesa que a gente construa, colocamos ali, exatamente na leveza dos olhos daquela pessoa, todas as nossas esperanças, angustias e emoções.
Quando se ama, de verdade e com os quatro compartimentos do coração, aquela pessoa se torna uma equação que você vai resolvendo todos os dias, em silêncio. Aos poucos você percebe que a soma de um sorriso com um olhar que foge, é igual a timidez. Que multiplicar aleatoriamente os gestos e as palavras equivalem a "não consigo dizer em voz alta que te amo". E até que dividir com você o mesmo sono, apertado numa cama de solteiro, significa que ele precisa de alguém que o ajude a viver nesse mundo de loucos.
Existe algo de muito belo, ainda que assustador, em amar alguém. É como preencher as horas do seu dia com a mais intrigante de todas a coisas intrigantes. A idéia de compartilhar e ser compartilhado traduz a nossa necessidade de fazer parte dessa engranagem que movimenta o mundo ou, em melhores termos, de saber que, de alguma forma, não passamos em branco pela vida.
O amor é uma forma única que quando se divide, cria dois inteiros no lugar de duas metades. Quando se ama, dentro de você nasce e cresce a convicção de que, afinal, ainda existe sim uma esperança de que as coisas sejam mais e melhores.
 Mas, ainda que amar seja tudo isso que disse, ainda assim é uma dor. Dor que desperta diante da súbita constatação de que o amor que recebemos foi insuficiente para repor aquele que entregamos. Mas ainda que doa, mesmo assim, não saberia viver sem amar. Quem não ama nunca saberá o motivo de sua própria existência, jamais experimentará a segurança morna de um abraço e nem, tampouco, o enlaçe inviolável que é criado toda vez que um amor nasce entre duas pessoas.
Eu amo.
E espero que um dia possamos dizer que, apesar dos pesares, amamos com a total ausência dessa dor "que desatina sem doer". E como diria meu amigo Mário Quintana: ''a vida é breve, e o amor, mais breve ainda.''

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