quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dois barcos


Quem bater primeiro a dobra do mar
Dá de lá bandeira qualquer
Aponta pra fé e rema

É, pode ser que a maré não vire
Pode ser do vento vir contra o cais
E se já não sinto teus sinais
Pode ser da vida acostumar

Será, morena?
Sobre estar só, eu sei
Nos mares por onde andei
Devagar
Dedicou-se mais
O acaso a se esconder
E agora o amanhã, cadê?

Doce o mar, perdeu no meu cantar


Marcelo Camelo

* Descobri que gostava mesmo dessa música no último show dos hermanos na fundição, que infelizmente não foi cantada, mas era a tão esperada música de abertura. VOLTA LOS !

terça-feira, 27 de abril de 2010

Guerra fria


A história começa de ponta cabeça, e com um final não tão feliz assim. Fui perguntar a Deus o que fazer. Nunca soube de onde essa voz vinha, mas ela sempre me dizia pra pensar um pouco em mim. Que só assim as coisas iriam se sair bem e que o conforto do meu coração aconteceria independendte da situação. Mas o coração aqui pulsa. Muito! E vivia em mim de tal maneira, que não conseguia separar o emocional do racional.

Passou a ser confuso quando o sentimento cruzou os dedos com a dor. A dor aqui sempre foi citada, nunca camuflada ou jogada num canto. Erro meu! Mas eu nunca aceitaria a presença dela numa história tão bonita e tão fantasiada... por mim, sempre por mim. Tentava ser a protagonista, mas acabei como codjuvante.

Eu nunca gostei de montanhas-russas. Nunca me agradou tuas oscilações que iam tão contra essa minha fábula de amor perfeito. Mas no final eu sempre sedia à adrenalina do momento. De alguma forma tudo que eu sentia era tão grande, tão forte, que escondeu teus erros, teu lado. Esse que na verdade, nunca foi metade. Mas eu não soube evitar. Não soube esperar, e a todo momento queria vivernos teus olhos, porque você já vivia nos meus.

E derrepente a minha imagem apagou nos teus olhos. A minha história encarava a realidade, e mais uma vez eu me sentia pequena, mas agora: sozinha. Queria uma mão que segurasse a minha enquanto eu desenhasse as palavras da nossa história. Um colo que me envolvesse, enquanto eu me escondia do que o mundo queria me mostrar. No final das contas, continuei não entendendo por quê insistir em botar a cabeça no meu travesseiro, quando ela foi feita pra caber no seu ombro.

Foi aí que eu lembrei da forma como a gente se conheceu. De quando eu disse que te amava. De quando você me retribuiu com o mesmo. Mas lembrei também da voz que eu não sabia de onde vinha, ou fingia não saber. Foi assim que na guerra entre o que eu sentia e o que eu queria, virei revolucionária. A arma branca de uma guerra fria.

Me inconformei. Parei de achar normal a sua ausência. Parei de me torturar com aquilo que não mais existia e só eu não podia (ou queria) ver. Assumi a estranheza por aquela pessoa que não mais devolvia carinho. Reivindiquei uma pessoa que eu sempre quis ter, mas que pela primeira vez, reconheci que não tinha. Colecionei cicatrizes contraditórias, mas suficientes o bastante pra me fazer entender que o que um não quer, dois não fazem. E PONTO FINAL! Como guerrear nunca foi meu forte, entreguei os pontos. Cansei! - respirei, enfim.

Então assim como a dor nos deixa mais fortes, a distância nos deixa mais unidos. E há alguns anos atrás, essa teoria pareceria facilmente um clichê besta de auto-ajuda, até que eu pudesse ver nitidamente dona distância operando milagres por aqui.

Verdade seja dita: ficar longe de quem se gosta pode ser um porre, mas nada melhor que uma boa distância pra unir pessoas. É como uma mola - quanto mais se distancia, mais tem a necessidade de se juntar. E assim somos nós todos, com nossa natural mania de dar um valor maior ao que está fora do alcance ou àquilo de que se sente falta. Pode ser positivo na maioria dos casos, basta saber enxergar do jeito certo.

Porque até o que eu sei foi posto à prova. E o que eu sei é que eu tinha nos meus olhos uma ingenuidade e um brilho que só de pensar em você já transbordava em palavras. Hoje, eu sou o limite em pessoa. Talvez essa tenha sido a chave que antes faltou e agora faria dar certo.

Rumos de vida foram seguidos, plausivelmente. Talvez diferentes, mas na mesma intensidade. Essa que junto com a imaturidade sempre andaram uma do lado da outra, um dia. Mas o tempo e o destino fizeram tudo de forma tão natural, que o acaso deu asas a imaginação. Coincidências foram transbordando até que nos encarávamos sem nenhuma pressão.

Foi denovo tão intenso que não saberíamos decifrar o antigo do atual. Mas foi diferente, sincero e CONCLUSIVO. O que era preto e branco tomou cor, e o que era dúvida ganhou certezas. Não era um recomeço, mas talvez um ''enfim, reconhecidos!''.

Podem não entender, mas aqui dentro é muito óbvio. Difícil mesmo é admitir que exageramos no fim das contas. Mas de fato, foi o melhor que ocorreu. Melhor ainda foi chegar a conclusão mútua de que era melhor colocar as reticências mas não acrescentar história. Um dos nossos melhores entendimentos.

Eu sou prolixa e tenho um diabinho sentado no ombro, me instigando como naqueles desenhos. Talvez seja a insegurança acumulada, talvez seja um meio que esse meu coração cansado (falou a oitentona) encontrou de se defender de ataques futuros. Ou talvez seja mais uma maneira irônica que essa minha vida banana tem de enfeitar a pior banalidade. Essa dualidade faz parte e vai de cada um produzir seus litros de sangue de barata ou aprender a dramatizar menos (opção vetada).

O tal diabinho até pode ser esperto e saber bem manipular. Ele só esqueceu que no ombro ao lado tem outro cara, duas vezes maior e vestido de anjinho.
Ah, e que ele faz jiu-jitsu.

E agora sim, a história começa. Distantes, mas em Paz!

Rafaella Telles

(Crônica meramente ilustrativa)