quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dançapateando

[Memórias de movimentos suaves, repletos de pas de bourrée, sissone e assemblé. Sonhos exaustivos e suados que só buscavam a perfeição.]

A dança, a priori, remeti a força e leveza do homem, transmitindo pelo corpo uma linguagem já aprimorada. Desde então, encara caras e bocas de todos os lados. Existem os que se aderem ao mundo e outros que caminham em um falso conceito.

Por um tempo exitei em expor meus sentimentos, mas mergulhei no princípio dos contratempos e em folha toda branca dei meu primeiro passo. Sem temer, esbocei tudo que me foi ensinado: gira, corre, salta. - olha o tempo! estica esse pé! - expressa, olha, vive. Tudo sete, oito.

Se antes o esforço e o empenho, depois as dificuldades, erros, tombos, bolhas. - Ah, as bolhas! nem me lembra delas. - Verdade é que só com toda essa mistura, a pureza do prefácio se faz real.


Assim, nasce todo o desejo de timbres, sons e combinações. Uma vez inerente à essas possibilidades, a base do seu corpo enriquece qualquer capela.

Me fogem as palavras ao tentar expressar o que significa pra mim ter o tempo na mente e total controle dos meus movimentos. O palco torna-se vazio e só escuto meus passos, meus flaps, meus riffs. Meu desafio é a música. Ela me acompanha.

Sapatos e sapatilha a postos, coreografia passada e repassada, vibrações carregadas de energia. Merda para todos! (Cortinas abertas.)

A música toca, meus movimentos são ricos, meu sorriso vibrante. Olhares me chamam atenção; olhos nos seguem. É notório o arrepio dos que ali estão. (Pose final.)


Meus pés tomados de ensaios pedem um salva de palmas.

Rafaella Telles

domingo, 14 de dezembro de 2008

O ex-estranho

redonda. nao, nunca vai ser redonda
essa louca vida minha
quadra, quadrinha
nao, nada,
essa vida nao vai ser minha.
vida quebrada ao meio,
voce nunca disse a que veio.
pl

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O silêncio que fala

O homem, em sua forma mais primitiva, expressava-se com uma linguagem pouco aprimorada. O corpo, a priori, cumpria diversas funções comunicacionais, já que a escrita era rudimentar. Hoje, o mesmo assume outras possibilidades expressivas diante da evolução da linguagem. Assim, essa tende a transmitir cultura, tendências e até mesmo paradoxos comportamentais. O corpo fala várias línguas.

Na grécia antiga o corpo era o templo que ilustrava os principais valores da época, como proporcionalidade, agilidade e fugalidade. Na contemporaneidade, é dado um foco excessivo à forma, o que deturpa os fins comunicativos do corpo. Embora pareca determinista, as possobilidades de leitura das linguagem corporais ficam limitadas à manipulação involutiva da estética. Muito músculo e pouco cérebro deixa o corpo grego analfabeto. O corpo está para a perfeição.

Diante dessa lógica, há um superexploração midiática da sensualidade. Nesse sentido, toda a libido que foi maquiada volta à cena por meio de uma apelação excessiva. Essa revela que o homem exteriorizou seus desejos, utilizando seu corpo como instrumento de exposição desmensurada. A forma humana, então, é estimulada com um investimeno para a obtenção do retorno aos prazeres instintivos mais primitivos. O corpo está para a cultura da sexualidade.

Antagonicamente, pode-se observar uma grande distância entre o ato e a verdadeira intenção de quem o produziu. Em uma realidade de fluidez dos valores morais, uma expressão acaba por ser relativizada, repercurtindo em resultados distintos a que foram reservados. Um aperto de mão não é mais garantia de lealdade, desnorteando a compreensão humana dessas representações. O corpo está para a cultura da incerteza.

Não há, dessa forma, uma gama de possibilidades de interpretação do que o corpo expressa,pois essa está restrita a um leque de opções manipulador da sociedade. Em um passado remoto, as expressões corporais eram marcadas por uma espontaneidade simplista. Hoje, são tomadas por artificialismos de intentos e ausência de princípios. A autenticidade deixou de ser característica. O corpo cala.

sábado, 1 de novembro de 2008

De amor em paz


Ah se toda lembrança fosse assim: tão sublime! Cada gesto marcado pela certeza da eternidade, pelo aconchego de um sorriso. Questão de merecimento, de sorte, de puro acaso ou até destino. É amigo! A vida vive nos testando, e por instantes não sabemos como reagir.

Um momento produtivo? Não! Um momento de satisfação? Também não! Um momento que não se escolhe, mas sim, acontece. Não obstante com tudo, brotam as supresas. Essas que conduzem dia, noite, barulho e silêncio com o mesmo objetivo. Desde então, o escuro não existe, o frio é confortável e as palavras têm vida. Se antes um desejo, hoje uma felicidade.

E é transbordando de alegria que os passos são dados meticulosamente com um só propósito: o futuro. São ensejos movidos de amor, regados de carinho e feitos com um suave toque saudoso de paz.

Rafaella Telles

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Tão fácil de enxergar... E chegar


Ainda que imersa em um mundo de tons e sons, me vejo ausente de toda turbulência do acaso. Nele seu maior risco é o preto e branco do ensejo, que visto a olho nu recicla todo prefácio. Ainda que preze por transpor pensamentos em palavras, observo-me sem saber o que dizer, porque enquanto se tem fé, a vida nos prega peças.

Em comum com as cores do universo, as luzes de outros mundos parecem mais translùcidas, como se houvesse permissão para o alcance de diversos interiores. Entretanto, eis que surge a minha vez. Tempo de cautela, de essência, de seleção.
Tempo de decolar. Modelar o pseudo-inatingível, e saber olhar com outros olhos.

Como em um túnel, segui no escuro focado em algo que me levava à frente. Apezar das vertigens, o alcance não é mais areia em minhas mãos. Agora meus passos são hesitantes, divididos em trechos, rastejados de lugares por onde andei morosamente. Muitos já teriam sido percorridos, e o trecho iminente... seria um destemido salto ao ar.

Tudo enfim, tão forte, tão intenso e tão estranhamente simples que não conseguia mais viver sem aquilo.

Rafaella Telles

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Encruzilhadas sentimentais


Que canseira, Deus meu. Canseira da saudade de momentos e sentimentos loucos e contraditórios. Uniam-se lágrimas e risos sem esforço algum. É intemporal a sensação que me provocam. Tão forte!

Palavras, riscos e rabisco bebidos como água, saboreados nos detalhes que envolvem a minha realidade e aumentam o contraste das cores, o volume dos sons e o sabor dos ensejos. Extrapolaram a minha probabilidade de sorrisos e preencheram o predicado de tudo em que hoje eu sou sujeito. Cativaram calmaria para meu coração com a suavidade da voz e a lógica que me falta, mas sem conseguir esconder as palavras que chamam pelo meu corpo quando as horas passam a ser contadas e as boas lembranças usadas.

Nesse turbilhão todo há um destaque, o qual se propaga até chegar onde deve. E onde deve é no corpo inteiro, no corpo da alma, no corpo da mente. Mistura e pureza que interceptam o efémero. Nada tão sublime há de ser transitório.

Tantas palavras lindas ditas, recitadas, cantadas e coloridas. A qualquer instante quebrando a monocromática rotina, onde todas as verdades, as mais puras verdades, vêm à tona traduzidas em sons e tons variáveis que preenchem áreas d´alma jamais antes preenchidas. Não é um ponto final. É um ponto-parágrafo.

Rafaella Telles

domingo, 5 de outubro de 2008

união


Se alguém acredita ser capaz de dominar as palavras... muito enganado está. As palavras têm vida e personalidades próprias, e circulam livremente por aí. A vergonha, por exemplo, anda acompanhada do sorriso, que mantém-se sempre contido, pequenino. Porém certas vezes o sorriso passeia sozinho... e sorriso sem vergonha é outra história... Sonho é palavra leve, que desliza livre por todos os cantos e não obedece nem mesmo a senhora lógica. Aliás tudo que o sonho não faz é obedecer regras. Ele é o que quer ser e ponto final. Medo é pesado, se arrasta pelo chão e reluta para dar qualquer passo. Por algum motivo, tem horas que o medo cresce, toma dimensões gigantescas e seus passos duros parecem esmagar a confiança e tantas outras palavras. Só nunca atingiu a esperança. Essa é palavra levada, apressada... sempre chega antes de todos, e nunca, nunca deixa um recinto. Dizem que ela é eterna. Esperança é parceira do sonho, e juntos sempre convidam a alegria à participar das festas. Há quem diga que a lágrima é palavra indecisa, pois nunca sabe ao certo quem acompanhar. Prefiro acreditar que ela é sociável. Responde prontamente aos convites de felicidade, mas também se faz presente nos momentos que a tristeza pede companhia. Até mesmo visita a solitária solidão! Criatividade sempre com suas idéias revolucionárias, propôs uma reunião entre todas as palavras. Com seu magnetismo atraiu todas as palavras para seu redor, e convenceu-as que juntas criariam uma nova companheira. Todas se esforçaram, deram seu melhor... assim nasceu poesia.

(Danonielle)