sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sem segredos



Tenho uma meia sete-oitavos cor de algodão doce.
Mas isso é segredo.
Gosto de Novos Baianos, ouço alto enquanto me arrumo. Mas isso? Pssss... É segredo.
Às vezes eu como direto da panela... Por favor, boca de túmulo!
Outro dia chorei assistindo Moulin Rouge. (outro dia?)
Se eu souber que alguém comentou isso por aí, eu nego.
Não leio emails longos.
Às vezes, falo que tenho 1,62.
Não sou totalmente loira e vivo querendo ser morena.
Penso sempre em fazer mais e mais tatuagens.
Filtro ligações no identificador de chamadas.
Mordi a hóstia na primeira comunhão.
Acho que bebê recém nascido não deve andar de avião. Pelo menos não no meu avião.
Queria me chamar Beatrice quando era criança.
Não sou esotérica, nem muito religiosa religiosa, nem acredito em coisas que não vejo. Confio mais nos astros do céu do que naqueles desenhados nos mapas.
Acho ridículo ficar sofrendo por amor, mas quando eu sofro acho ridículo quando acham isso de mim. E por isso já jurei para mim mesma que se meu peito doer por amor de novo vai doer calado, trancado no banheiro, até passar o ataque histérico e tudo voltar ao normal.
Dou risada por dentro quando ouço alguém falar uma bobagem descabida, sempre me acho incapaz de dizer tal asneira. Mas, ninguém precisa saber disso, né? Ficaria mal pra mim.
Odeio gente que se acha dona da verdade, esse tipinho que tem certeza de que o bairro onde mora é o melhor lugar do mundo, por exemplo. Essas pessoas que não compreendem como os outros podem ser felizes morando no centro, no Tremembé, em Hortolândia ou em Johanesburg não têm o meu respeito. Mas, como é segredo, elas não sabem disso e a gente se dá bem.
Adoro sentir saudade de seja lá o que for. E como disse um sábio amigo, não abriria mão de nenhuma delas por nada. São saudades minhas. Ao extremo, é a soma delas que faz de mim eu. Sinto saudade de comprar material escolar, de encapar os cadernos com o plástico daquela série, de escolher um estojo novo e uma borracha cheirosa. Sinto saudade até do cheirinho da escola (aquela mistura de pão doce e livro novo). Sinto saudade de ter preguiça de ir ao balé e não conseguir preparar uma primeira aula de sapateado, da marca Studio Line (esculpa seus cabelos à sua moda) e de nata no leite. E olha que eu nem gostava dela (e não gosto ainda).
Sou uma nostálgica incurável. Adoro Indiana Jones, Dr. Emmett Brown, a Mônica e o Cebolinha e Friends.
Há momentos em que fico lembrando de coisas com uma dor no peito... Videocassete e bomba de encher pneu de bicicleta, por exemplo. Quase choro.
Não quero casar na igreja. E já sonhei sim que tinha um bebê. Lindo, gordinho e risonho. Não, não era de ninguém conhecido, e isso no sonho era zero importante.
Não gosto de ouvir Maria Gadú. E olha que meu música brasileira está sempre no meu top five. Como essa mulher acha que pode cantar Legião Urbana e obter o mesmo sucesso? Não dá!
Fazer o quê? É a pura verdade, meu amigo... A pura verdade. A voz dela me irrita!
Amo algumas coisas e algumas pessoas como se fossem vitais para minha existência. Abomino outras como se fossem uma espécie de pereba crônica da qual não se livra nem com uma reza das brabas.
Eu gosto de cheiro de cachorro, de morango e de outono. Eu não gosto de bunda grande, assinatura eletrônica e frases no MSN. Isso faz de mim uma santa? Ou uma chata?
Eu gosto de piscina, de cebola e do Jude Law. Eu não gosto de Fall out boy, carnaval e textos do Jabor que não são do Jabor. Isso faz de mim uma pessoa amarga ou uma pessoa de bom gosto?
Eu gosto da Kate Winslet, de Cupim ao molho madeira e detergente de coco. Não gosto de gato, de “balada” e de acordar tarde. Por isso eu sou intolerante ou sincera?
Prefiro email à conversa por telefone, temaki a batata frita, Austrália a Paris, carro a avião. Então eu sou atrasada ou melancólica?
Odeio bom humor falsificado. Prefiro um homem que me ponha no eixo a um sentimental chato sem pelo no peito, mas não abro mão do romântico.
Não costumo dizer nunca. Sou cabeça dura e orgulhosa, mas mudo facilmente de idéia se convencida do contrário por alguém ou pelo meio.
Prefiro frio a calor, campo a praia, loiro a moreno, inteligência a emprego bem remunerado. Comédia a terror, amor a paixão, Quindim a sorvete. Odontologia a Farmácia, Rodrigo Aamarante a Leonardo Dicaprio, Beringela a jiló, atlântico a pacífico.
Entre cantar e dançar, fico com a segunda opção.
Entre o céu e o mar, fico com a montanha.
Entre o silêncio e a gritaria, escolho simplesmente estar só.
Entre o sim e o não, a verdade, por favor.
E nada disso interessa a absolutamente ninguém. Não interessa sequer a mim mesma que já sei de tudo que sei e que sou.
Meus erros ou minhas bondades, não vão fazer do mundo um lugar mais sombrio ou torná-lo melhor.
Minhas verdades não fazem de mim uma pessoa boa ou ruim.
Por isso, guardo tudo em segredo.
É coisa minha.
Não interessa a ninguém.


R. Telles