sábado, 19 de junho de 2010

Francisco, again

Sei que prometi postar crônicas, mas hoje é o dia dele! Eeee, bem, estou desculpada, ?! rs.

 

Desde nova fui embalada por sons brasileiros, mas levei um tempo pra me encontrar em grandes poetas. Vaguei aqui, ali. Mas finalmente me achei. Fui me apaixonando aos poucos, ouvindo amigos cantando, vídeos rolando, histórias sendo contadas. E assim começaram os meus ensinamentos.
Aprendi, por exemplo, que havia uma mãe que muito se orgulhava de seu filho que, apesar de ser bandido, nada em casa permitia que faltasse. Seu moço, olha aí, é O Meu Guri (''e ele chega''). Que Vai Passar nessa avenida um samba popular, onde até dançaram os nossos ancestrais; ou, quem sabe, o que passava era A Banda, cantando coisas de amor, deixando eu, a moça triste (que vivia calada) a sorrir na sacada – da janela, surpreendentemente alegre, assim como toda a cidade; haviam notícias frescas em um disco, Meu Caro Amigo; o homem que caíra, ou mesmo suicidara-se em uma Construção (e que ''beijou sua mulher como se fosse a única…''), um que adivinhava ou deduzia O Que Será, e outro que falava de sua amada, tão preocupada, puro Cotidiano.
Outro dia minha mãe perguntava se eu conhecia a música da Geni. Disse que ouviu Chico cantando por aí. Conhecia, mas escutava sem atenção, nunca soube do que se tratava, nem de tamanha revolução. Dona Tereza desde então era pega cantando-a pela casa (ela quando cisma com uma música, só Deus sabe como parar).
Alguns dias se passaram e ontem eu ouvi a música da Geni. Não sabia, mas a composição havia sido bastante criticada. De conservadores até liberais. Mas ontem eu ouvi e senti pena. Pena pela coitada, tão singela, mas que também tinha seus caprichos e não era perdoada pela cidade – tão péssima em agradecimentos. Aquela que já foi namorada dos avarentos, dava-se atrás do tanque, no mato. Era quem fazia sonhar os moleques do internato. Ontem eu senti pena de Geni. E também pela moça que se debruçava no corpo do amado, que agarrava os teus cabelos, ''sem carinho, sem coberta, no tapete'', Atrás da Porta. Aquela mesma, que fora abandonada por quem a mandou ser feliz e passar bem. Olhos nos Olhos  ''quero ver como suporta me ver tão feliz''. Aliás, onde estará, ela, a Geni e tantas outras damas que Buarque encarnava, suas mais reais personagens, genuínas e solitárias…
Hoje eu cantei Geni, sem perceber. Mamãe preparava a comida e nem via o fato até que aumentei o volume. Fiz um dueto com o Chico, mas ele não me ouvia e nem se deixava ser interrompido. Cantei Geni no itunes, já que é difícil encontrá-la nas estações de rádio. Minha mãe me pediu que eu cantasse o restante das canções, diz que acha bonita a minha voz, imagina! Coisas de mãe (meu pai é mais sincero quanto a isso. gas-gui-ta e pronto. rs). A próxima começou como um conselho: ''Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas''. Chico só errara na localização geográfica. As mulheres são de Hollanda.

O dia de hoje, significa muito para a música popular brasileira.
Chico Buarque, um grande poeta, completa mais um ano de vida. sessenta e seis anos, e grande parte destes, regidos de muita música e literatura brasileira.
Não ouvi Chico a minha vida toda, mas de uns anos pra cá ele completou meu repertório musical e preencheu pensamentos soltos.
Artista combativo, clamoroso pela liberdade de expressão, ativo em protestos contra a repressão e a favor dos brasileiros - como ele - forçados a viver no exílio. Grande participante de festivais de MPB, sempre enfrentando os ditames ditatoriais em suas músicas. Hoje se alterna entre música e literatura, sempre com desenvoltura e qualidade. Pode não ser tão combativo quanto no passado, mas segue com afiado espírito crítico. É, acima de tudo, um poeta da canção popular.

Parabéns ao Chico! – poeta, cantor, compositor, boêmio e encantador.

E para curtir um pouquinho do muito que ele tem a nos oferecer acessa lá:

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